BACURI ( Platonia insignis) |
Informação básica da planta
1 - NOMECLATURA
Nome cientifico: Platonia insignis Mart
Família: Clusiaceae
Nomes Populares: Bacuri
2 - OCORRÊNCIA
Pará, Maranhão, Piauí, Tocantins, Goiás e Mato Grosso, alcançando também o Paraguai (Ferreira et al., 1987; Macedo, 1995; Cavalcante, 1996).
3 - DESCRIÇÃO
O bacurizeiro (Platonia insignis Mart.), espécie frutífera da família Clusiaceae, é uma planta arbórea tipicamente tropical. Os centros de origem e de diversidade da espécie estão localizados no Pará, onde é encontrada ampla variação de forma e tamanho de frutos, rendimento e qualidade de polpa, além de outras características de interesse econômico (Cavalcante, 1996; Macedo, 1995; Villachica et al., 1996).
Por não constituir ainda uma cultura comercialmente estabelecida, a produção de frutos é decorrente, na quase totalidade, de atividades extrativistas, sendo raros os pomares com essa espécie.
O bacurizeiro é considerada uma espécie ainda não domesticada (Giacometti, 1990), mas de elevado potencial de uso. Nas principais áreas de ocorrência da espécie, i.é., nas regiões Amazônica e Meio-Norte, existe uma grande diversidade genética, manifestada, principalmente, por diversas características fenotípicas do fruto, como formato (ovalado, arredondado, achatado, periforme), tamanho (150-1000 g de peso médio), percentagem de polpa (3,5-30,6%), espessura (0,72 a 2,06 cm) e coloração da casca (verde a amarelo-citrino, passando, também, pelo marrom-avermelhado), número de sementes por fruto, sabor e aroma, bem como nas características bromatológicas (Moraes et al., 1994; Mourão & Beltrati, 1995a, 1995b). Alta variação também é encontrada em produtividade. Árvores entre 15 e 20 anos de idade produzindo de 800-1000 frutos têm sido reportadas (FAO, 1987).
Por outro lado, apesar da importância que se reveste a espécie em epígrafe e do seu elevado potencial econômico, muito pouco tem sido feito para o conhecimento e uso da mesma, quer seja na área de coleta, conservação, caracterização e avaliação de germoplasma, quer seja na de melhoramento genético, visando o desenvolvimento de cultivares, ou na de manejo cultural, objetivando o desenvolvimento de práticas adequadas de cultivo e manejo da espécie.
Atualmente, um banco ativo de germoplasma (BAG) está sendo formado na área experimental da Embrapa Meio-Norte, em Teresina, PI, o qual conta com acessos de 45 matrizes coletadas em diversos pontos de ocorrência das espécies no Meio-Norte (Souza et al., 2000).
Árvore de porte elevado, com altura entre 15 m e 25 m, podendo atingir, nos indivíduos mais desenvolvidos, altura superior a 30 m e diâmetro na altura do peito em torno de 1,00 m. O fuste é retilíneo e a copa ampla e aberta, em forma de cone invertido. As folhas são simples, elípticas e com disposição oposta cruzada. Padrão de venação do tipo paxilato, ou seja, com nervuras secundárias copiosas, e próximas, terminando em uma nervura que acompanha toda a periferia da folha. Pecíolos curtos com comprimento variando entre 1 e 2 cm. As flores são hermafrofitas, constituídas de cinco pétalas de cor rósea intensa, mais raramente de coloração creme quase branca ou, ainda, com todas as tonalidades entre o róseo e o creme. Os estames estão agrupados em cinco feixes, uniformemente distribuídos, coalescentes na base, cada feixe contendo em média 82 estames. A deiscência da antera é longitudinal, com abundância de grãos de pólen. O ovário é súpero, geralmente pentaloculado, contendo cada lóculo elevado número de óvulos, que apresentam placentação axial e estão dispostos em duas fileiras. O estigma é pentalobulado e, juntamente com estilete, apresentam cor verde-clara. O fruto é do tipo bacáceo, uniloculado, com formato arredondado, ovalado, piriforme ou achatado, nesse último caso com cinco sulcos visíveis na parte externa. O epicarpo é delgado, com maior freqüência de cor amarela e mais raramente com coloração verde-amarelada, marrom-avermelhada ou mais raramente verde. O mesocarpo é espesso e de consistência coriácea, repleto de vasos lactíferos, exudando substância resinosa de cor amarela, quando cortado ou ferido. O conjunto formado pelo epicarpo e mesocarpo, popularmente denominado de casca, representa em média 70% do peso do fruto e apresenta espessura que varia entre 0,7 e 1,6 cm. A parte comestível é corresponde ao endocarpo, e representa em média 13% do peso do fruto. É de cor branca, com aroma forte e sabor adocicado e desprovido de vasos lactíferos. As sementes são volumosas, de coloração amarronzada e representam, aproximadamente, 17% do peso fruto. Tipos raros apresentam frutos desprovidos de sementes ou com número de sementes igual ou superior a seis.
De acordo com Souza et al. (2000), o bacurizeiro apresenta as fenofases de foliação, queda de folhas, floração e frutificação. Sendo uma espécie caducifólia, o bacurizeiro apresenta senescência de folhas em determinada época do seu ciclo anual de produção, caracterizada, inicialmente, pela descoloração das folhas, as quais passam do verde para o amarronzado, seguida pela sua queda. Em função do caráter silvestre da espécie, o que implica em alta variabilidade entre os indivíduos, as fenofases nem sempre são simultâneas entre indivíduos, observando-se plantas em diferentes estágios fenológicos numa mesma área.
O bacurizeiro é uma planta que se desenvolve bem em regiões de clima úmido e subúmido e, também, em regiões de cerrado e cerradão. A ocorrência do bacurizeiro em mata virgem é rara, sendo mais comum em áreas alteradas, onde a espécie se localiza em mata secundária ou em pastagens, onde apresenta um porte menor (Souza et al., 2000).
As características organolépticas do fruto de bacuri permitem enquadrá-lo tanto no grupo de frutas para consumo in natura como no grupo de frutas industriais. A parte comestível ou industrializável do fruto é a polpa (endocarpo), que é usada na fabricação de refresco, néctar, geléia, doce em pasta, compota, licor, iogurte, sorvete, picolé, bombom e, até mesmo, de uma cerveja com sabor da fruta. Na culinária doméstica, o bacuri tem larga aplicação, sendo utilizado na elaboração de cremes, pudins, recheio de bolos, biscoitos e outras iguarias. Em algumas dessas formas de consumo, a casca do fruto, pré-cozida, é usada como ingrediente. Cada quilograma de polpa é suficiente para elaboração de cinco litros de refresco de boa qualidade organoléptica.
O bacurizeiro destaca-se entre as fruteiras nativas do Norte e Nordeste do País pela nobreza e fineza de seus frutos, os quais são intensamente disputados por coletores e consumidores. A polpa de seus frutos alcança alta cotação nos mercados da região e já despertou a atenção do mercado americano (Souza et al., 2000). Segundo Campbell (1996), suas características organolépticas são excelentes, sendo doce, aromático e altamente apreciado.
A parte comestível do fruto (polpa) apresenta pH variando entre 2,80 e 3,50, acidez total titulável entre 0,32% e 1,60% e teores de sólidos solúveis totais entre 10,2°Brix e 19,1°Brix. Essas características, embora sofram influência do ambiente, apresentam forte componente genético. Assim sendo, é possível a seleção de genótipos cuja polpa dos frutos apresentem características físico-químicas desejáveis. Por exemplo, para o consumo in natura é importante que o teor de sólidos solúveis totais seja superior a 16 °Brix e que a acidez total titulável seja, no máximo, de 1,0%.
O valor energético da polpa de bacuri é de 105 kcal/100g de polpa, na sua maior parte determinado pelos açúcares presentes, pois os teores de lipídios e, particularmente, de proteínas, são baixos. Dentro dos açúcares totais a participação relativa da sacarose é de 1,12%, e da glucose e frutose, de 13,15% e 16,15%, respectivamente.
A polpa de bacuri é um alimento rico em potássio, fósforo e cálcio e com razoável teor de ferro (Teixeira, 2000). Diversas vitaminas estão presentes no bacuri, todas, porém, em baixas concentrações.
A formação de mudas de bacurizeiro pode ser efetuada por sementes, pela regeneração da raiz primária de sementes em início de germinação ou por enxertia. O processo em que se utiliza a raiz primária de sementes em início de germinação, quando comparado com a propagação tradicional por sementes, é melhor por possibilitar a formação de mudas ou porta-enxertos no prazo de um ano, enquanto que por sementes esse prazo é de dois a três anos. Plantas propagadas por esses métodos só entram em fase de produção 10 a 12 anos após o plantio, sendo que em alguns casos esse tempo pode chegar até 15 anos.
A propagação por enxertia, por sua vez, além de ser um processo que conserva todas as características genéticas da planta-matriz, possibilita a redução do período de juvenilidade da planta. Por este método, normalmente, as plantas entram em fase de produção cinco a seis anos após o plantio, embora o início do florescimento já ocorra aos três anos de idade. A enxertia pode ser efetuada utilizando a garfagem no topo em fenda cheia, a garfagem no topo em bisel (à inglesa simples) ou a garfagem lateral em fenda cheia. Recomenda-se, entretanto, a utilização das duas primeiras, por proporcionarem maiores percentagens de pegamento do enxerto.
Ao escolher a área para implantação do pomar deve-se ter em mente a proximidade de uma fonte de água para irrigação. Em termos de solo, o bacurizeiro é uma planta rústica, não havendo restrições quanto ao tipo de terreno, desde que não seja sujeito a encharcamento (Souza et al., 2000). As atividades de preparo da área consistem em desmatamento e limpeza; aração e gradagem; marcação, preparo e adubação das covas (Calzavara, 1970).
Recomenda-se utilizar covas com 0,50 m nas três dimensões, quando se tratar de solos de textura leve a média, ou 0,60 m para solos pesados. Em função do porte da planta e das práticas culturais que se pretende dar ao pomar, os seguintes espaçamentos podem ser indicados: 8,0 x 7,0 m ou 7,0 x 7,0 m, quando se tratar de plantio com mudas enxertadas; e 9,0 x 9,0 m, quando a implantação do pomar for feita com mudas originadas de sementes ou de “pé franco”. Na realidade, por se tratar de uma espécie ainda não domesticada, informações científicas, principalmente na área de manejo agronômico, são raras e frutos, na maioria das vezes, da observação e não da experimentação (Souza et al., 2000).
Em relação à adubação, a recomendação é que esta deve, preferencialmente, ser realizada com base nos resultados da análise de solo (Souza et al., 2000). No entanto, na ausência de informações sobre a cultura, tentou-se, inicialmente, na Embrapa Meio-Norte, utilizar recomendações próximas das usadas para a cultura da mangueira. Assim, nas primeiras áreas de plantio implantadas na Embrapa Meio-Norte, em Teresina-PI, foi utilizada a seguinte adubação de fundação: 20 a 30 L de esterco de curral curtido/cova; 400 a 500 g de calcário dolomítico/cova; e 500 a 600 g de superfosfato simples/cova.
Entretanto, com a utilização dessa adubação observou-se elevado índice de mortalidade das mudas, tendo este chegado até 65% do estande inicial no primeiro ano do plantio. Ao arrancar as mudas mortas, detectou-se a completa podridão de seu sistema radicular. Por outro lado, observou-se que mudas plantadas sem o uso de qualquer tipo de adubação apresentavam índice de mortalidade bem menor. Assim, chegou-se a conclusão que, na verdade, o esterco de curral devia estar propiciando um ambiente favorável à proliferação de um fungo (ainda não identificado), o qual, provavelmente, é o responsável pela podridão das raízes das plantas. Em função desse problema, parou-se de utilizar esterco, até que se tenham dados experimentais que comprovem o contrário.
De acordo com Calzavara (1970), a alta rusticidade do bacurizeiro, aliada às necessidades de poucos cuidados operacionais, fazem do mesmo uma espécie ideal para o desenvolvimento da fruticultura em áreas litorâneas. No entanto, mesmo em se tratando de uma planta rústica e pouco exigente em condições naturais, práticas culturais específicas são necessárias e essenciais para o bom desenvolvimento e produção do pomar de bacuri, assim como acontece com as demais fruteiras (Villachica et al., 1996). Neste contexto, as seguintes práticas culturais são recomendadas: podas, manejo do mato, adubações de cobertura, irrigação e controle fitossanitário.
Os frutos de bacuri atingem o ponto de colheita em torno de 120 a 150 dias após a floração/frutificação (Calzavara, 1970). Normalmente, em bacurizeiros nativos os frutos são coletados após sua queda natural, em virtude da grande altura que a planta atinge. Villachica et al. (1996) relatam que o uso de plantas enxertadas resulta em árvores menores, tornando conveniente o estudo de métodos mais adequados de colheita, o que já vem sendo observado nos trabalhos realizados no Brasil, principalmente pela Embrapa Meio-Norte e Embrapa Amazônia Oriental (Souza et al., 2000).
Devido à proteção dada pela casca grossa, os frutos não se danificam facilmente e podem ser transportados a grandes distâncias, mantendo boas condições (Calzavara, 1970). A polpa mantém sua qualidade para o consumo direto por 5 a 10 dias, contados desde o momento da queda do fruto. Este período pode ser prolongado quando os frutos são colhidos nas árvores (Villachica et al., 1996).
A industrialização do fruto de bacuri tem sido efetuada através de pequenas indústrias, que se utilizam, principalmente, das seções partenocárpicas dos frutos para a produção de diferentes produtos.
Além da geléia e do sorvete, usa-se a polpa para a fabricação de suco, doce, pudim e compota (Villachica et al., 1996). Um produto tradicional na região Amazônica, e que atrai a atenção de visitantes, é o chocolate com recheio de bacuri. O recheio oferece um contraste interessante com o chocolate e torna o produto muito apreciado.
A polpa, matéria-prima para as indústrias de processamento da região, pode ser encontrada durante todo o ano, sendo mantida em freezers ou câmaras frigoríficas em temperaturas de -10 ºC a -20 ºC, sem que ocorram alterações muito significativas por períodos de até oito meses (Santos, 1982).
topo da página
|